terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Sessão da Meia-Noite #26: Ichi O Assassino (2001)

FONTE:http://cinemacultura.com/?p=10115
Fala moçada! Tudo bem? Em julho de 2012, ainda nos primórdios do blog, eu publiquei um post na sessão "Nanquim&Celulóide" sobre o polêmico mangá "Ichi the Killer" de Hideo Yamamoto. Na ocasião eu comentei que a história havia ganhado uma adaptação para o cinema dirigida pelo famoso Takashi Miike e inclusive tinha sido lançada em DVD no Brasil pela Europa Filmes. Eu também havia "prometido" falar sobre este filme e eis que quase 3 anos depois volto para cumprir minha promessa,rsrs. Após assistir o filme três vezes nos últimos dois dias venho aqui para falar sobre esse filme tão infame e conhecido entre os fãs de cinema underground. Sem mais delongas, com vocês Ichi the Killer!
Boa leitura e não deixem de comentar!
R.
P.S.: Obrigado ao leitor do blog "Terceiro Olho" pelo comentário no post sobre o mangá e desculpe pela demora em falar do filme,rsrs.


- A história certa para o diretor certo.

O diretor Takashi Miike (FONTE:http://socialpsychol.wordpress.com/2011/08/24/takashi-miike/).
Em uma das entrevistas do (bom) material extra presente na edição dupla nacional lançada pela Europa Filmes, um repórter pergunta ao ator (que também é diretor) Shinya Tsukamoto, que interpreta Jijii-san, se ele seria capaz de dirigir Ichi The Killer. A resposta é direta: "só Miike-san seria capaz de dirigir tal filme". Eu não conheço a filmografia de Tsukamoto (que também é considerado um diretor cult), mas pelo pouco que conheço da filmografia de Takashi Miike só posso concordar com a afirmação.
Nascido em agosto de 1960, Takashi Miike é considerado um dos mais prolíficos e controversos cineastas japoneses. De acordo com o site Socialpsychol (http://socialpsychol.wordpress.com/2011/08/24/takashi-miike/), desde seu debut em 1991 Miike já dirigiu cerca de 70 produções, incluindo tanto longas para o cinema, lançamentos direto para o vídeo e também para a televisão. Provavelmente eu já citei isso antes, mas Takashi Miike foi o responsável pela adaptação de outro mangá polêmico (que eu também já comentei no blog) para uma série de televisão, MPD Psycho de 2000. 
A vasta produção de Miike-san não se restringe apenas a adaptações, inclui muitas produções originais excelentes e, na maioria das vezes, polêmicas. Ele é conhecido internacionalmente principalmente pela direção de "Audition" (1999), um misto de suspense e terror que conta a história de um homem em busca de uma namorada que promove uma audição (dai o título da película) para encontrar a namorada perfeita. O que ele não esperava era topar com uma moça um tanto quanto perturbada, que acaba por dominá-lo e iniciar uma lenta tortura. Infelizmente ainda não tive o "prazer" de assistir "Audition", mas ele é bastante elogiado entre os fãs do terror.

Pôster de Audition (FONTE:http://www.beyondhollywood.com/hollywood-is-belatedly-remaking-takashi-miikes-audition/).
Os filmes de Miike também são bastante elogiados em festivais internacionais, onde normalmente parte da platéia acaba deixando a sala antes do fim da exibição,rsrs. O próprio diretor comenta isso na faixa de comentário do DVD da Europa Filmes. Sim, a edição é surpreendentemente tão bem feita que inclui até a faixa de comentário legendada, coisa rara de ver mesmo em filmes bem mais famosos. Por falar nisso, na faixa Takashi Miike divide os comentários com o autor do mangá original, Hideo Yamamoto. Mas falamos mais da edição em DVD depois. Continuando, a lista de filmes dirigida por Takashi Miike é muito extensa, mas além dos filmes que abordam o terror e a violência em sua forma mais cruas, destacam-se os filmes que retratam a famosa máfia japonesa, a Yakuza. Talvez essa experiência com filmes sobre os mafiosos japoneses tenha dado um know-how maior para o diretor comandar a adaptação de Ichi, uma vez que como eu já citei no post do mangá, muito da história se baseia nas relações entre o submundo dos Yakuzas, tema que também é recorrente na obra de Hideo Yamamoto. Ou seja., Takashi Miike realmente era o cara certo para dirigir a adaptação, tanto pela sua especialidade em "ultra violência", quanto pela sua experiência com histórias sobre Yakuzas. Por falar nisso, dentre seus filmes abordando o tema, destaca-se a trilogia "Dead or Alive" (1999), que nada tem a ver com o game de luta da Tecmo de mesmo nome :P

Pôster do primeiro D.O.A. (FONTE:http://www.japandownload.com/2014/05/dead-or-alive-trilogy-1999-2001-dvdrip.html).
Incrivelmente, Takashi Miike também dirigiu em 2007 uma adaptação do fantástico game da Sega, "Yakuza" de PS2. Com certeza é um filme que eu quero assistir um dia :D
Como vocês podem perceber, Takashi Miike é um especialista em filmes do submundo japonês, sendo que seu escritório, segundo o que ele diz nos comentários de Ichi, fica localizado exatamente em Kabukicho, o famoso distrito Yakuza de Shinjuku, onde se passa a história tanto de Ichi the Killer quanto do próprio game Yakuza.
Por fim, fica uma curiosidade a cerca do famoso diretor. No filme de 2005 "O Albergue", dirigido por Eli Roth, temos a presença de Takashi Miike quase como um easter egg. Para quem não assistiu o filme, o tal albergue é na verdade uma isca para pegar turistas que são levados até um clube de milionários que se divertem torturando eles até a morte. Dentre os clientes do tal clube temos ninguém menos que o diretor de Ichi The Killer. Com certeza é uma homenagem do diretor Eli Roth que admite ser um grande fã deste diretor. Além disso, se não me engano, na sequência (O Albergue II de 2007), surge outro nome famoso do cinema de terror como um dos clientes do clube: Ruggero Deodato, diretor italiano responsável pelo infame "Cannibal Holocaust" de 1980, um filme sobre canibais com cenas tão grotescas e maquiagem tão verossímel que por muito tempo foi tomado como sendo um snuff movie (filme em que pessoas morrem de verdade). 

Takashi Miike com Eli Roth no set de O Albergue (FONTE:http://www.i400calci.com/2013/05/ricercati-ufficialmente-morti-hostel-2005-di-eli-roth/).
Ah, antes que eu me esqueça: os filmes da franquia "O Albergue" são produzidos por Quentin Tarantino, que é um padrinho de Eli Roth. O diretor americano já declarou muitas vezes que é fã de Takashi Miike, sendo inclusive que Ichi The Killer foi uma inspiração para Kill Bill. Na já citada faixa de comentários do DVD, Takashi Miike diz a Hideo Yamamoto que Tarantino gostou muito do filme e inclusive utilizou alguns dos atores japoneses em sua nova produção. A produção em questão era nada menos que Kill Bill parte 1, que tem uma parte passada no Japão e conta com muitos atores nipônicos. É como eu digo, inspiração gera inspiração :D
Bom, mas agora vamos ao filme.

- A trama...

Os atores que deram vida aos personagens do mangá! Da esquerda para a direita: Jijii-san (Shinya Tsukamoto), Ichi (Nao Omori), Kakihara (Tadanobu Asano), Karen (Alien Sun) e Kaneko (Hiroyuki Tanaka, mais conhecido como Sabu) (FONTE:http://quejaycine.blogspot.com.br/2013/02/ichi-killer.html). 
A trama de Ichi The Killer segue praticamente a risca a história do mangá. É claro que devido a duração do filme (2 horas) não é possível mostrar tudo que os 10 volumes de 100 páginas do mangá apresentam, mas a essência da história idealizada por Hideo Yamamoto está presente no roteiro escrito por Sakichi Sato. Além disso, segundo entrevista do próprio autor original, na época em que o filme foi lançado a série ainda estava em andamento (eu acredito que ela estava próxima do fim, porque muitos personagens já haviam dado as caras no filme), sendo assim o desfecho do longa é diferente do mangá. Ainda assim, é impressionante como ambos os finais são "coerentes" entre si. Eu arrisco dizer que a participação ativa de Yamamoto na produção do filme serviu como uma via dupla para ele e Takashi Miike, de modo que o filme pode ter influenciado o destino do mangá e parte da trajetória imaginada pelo mangaká para seus personagens também foi transmitida ao filme. O que não deixa de ser possível, uma vez que o mangá terminou exatamente no ano de lançamento do filme, 2001.
Voltando a história, o filme inicia exatamente do mesmo modo que o mangá: sob as ordens do misterioso Jijii-san, o também misterioso assassino Ichi mata secretamente o líder da gangue Anjou. Com a ajuda de seus capangas, Jijii-san faz com que parece que Anjou fugiu com uma namorada levando toda as economias da gangue.

Kakihara (Tadanobu Asao) em cena idêntica ao mangá (FONTE:http://imgkid.com/ichi-the-killer-kakihara-gif.shtml).
Esse fato acaba causando um rebuliço no mundo Yakuza, sendo que um dos integrantes da gangue de Anjou, o masoquista Kakihara, está crente que seu chefe foi raptado por alguma gangue inimiga e continua vivo. Kakihara parte então em uma busca insana e sem limites pelo seu "amado" chefe. Assim como no mangá, fica explícito pelas falas dos personagens que Kakihara na verdade era apaixonado não por Anjou, mas sim pelas surras e torturas que o líder Yakuza lhe aplicava. Segundo ele, ninguém é capaz de fazer isso como Anjou fazia. Do mesmo modo que na história original, essa obsessão de Kakihara com Anjou é um dos combustíveis para a história, além de é claro as manipulações de Jijii-san.
Paralelo a isso, temos o desenvolvimento de Ichi, que logo descobrimos é um "bebê em corpo de homem" que possui taras sexuais bizarras (ele se sente excitado com mulheres espancadas). Logo no início do filme temos uma cena marcante em que Ichi espia na janela a garota de programa com quem ele se encontra (no mangá ela chamava Sheila, no filme é Shannon) sendo espancada por seu cafetão. Ichi fica tão excitado que acaba ejaculando em uma planta próxima a janela. Então, em um momento épico de Takashi Miike, o título do filme surge do sêmen de Ichi o_O E isso é apenas o começo!

Quer sentir mais nojo ainda? Segundo Miike, isso é sêmen real da equipe >< (FONTE:http://flickaholics.blogspot.com.br/2011/05/ichi-killer-2001.html).
Logo de cara o diretor já mostra sobre o que é esse filme,rsrsrs. Continuando, Kakihara segue em sua busca por Anjou e vira alvo fácil de Jijii-san. O homem diz que um antigo desafeto de Kakihara, Suzuki (Susumu Terajima), pode ser o responsável pelo rapto de Anjou. Kakihara quebra todas as regras do mundo Yakuza (Suzuki faz parte de um clã aliado ao do qual Kakihara pertence) e captura o rival, torturando ele em seguida com óleo fervendo! Essa cena é uma das mais famosas do filme e sempre está presente em qualquer discussão sobre ele. Mais do que a tortura, quem viu o making of sabe que o ator que interpretou Suzuki teve que ficar quase um dia todo maquiado para a tomada, o que por si só foi uma tortura real,rs.

A famosa tortura (FONTE:http://cineultramundo.blogspot.com.br/2013/08/critica-de-ichi-killer-takashi-miike.html).
As ações de Kakihara despertam a fúria dos outros Yakuzas, como planejado por Jijii-san, e não demora muito para o vilão masoquista estar sozinho em sua busca por Anjou. Quando finalmente ele descobre a verdade sobre o destino de seu patrão e parte em busca de Jijii-san e cia, não restam muitos homens ao seu lado. Além do fiel Kaneko (interpretado pelo também diretor Sabu) e a prostituta estrangeira Karen (Alien Sun), restam poucos aliados para o maluco, tanto que ele tem que recorrer aos gêmeos homicidas Saburo e Jiro (ambos interpretados por Suzuki Matsuo) em sua busca final pelo misterioso assassino Ichi. E é o embate entre esses dois homens, o sádico perfeito e o masoquista perfeito, que representará o clímax da película. Ou não :P

- Os bastidores...

FONTE:http://www.easternkicks.com/reviews/ichi-the-killer
Ichi The Killer fica ainda mais interessante quando descobrimos um pouco mais sobre os bastidores por trás da produção. Para a nossa sorte, como eu já citei, a edição nacional traz uma boa quantidade de material extra, todos devidamente legendados. O mais relevante, na minha opinião, é a faixa de comentários onde Takashi Miike e Hideo Yamamoto conversam sobre a produção. Ainda que eles passem boa parte do longa falando sobre coisas que não estão aparecendo na tela, algumas vezes saem uma ou outra preciosidade sobre os bastidores do filme ou sobre um ou outro ator em especial. Fora que ambos são muito bem humorados e alguns comentários são hilários,rs.

A prostituta Shannon (FONTE:http://almassucias.blogspot.com.br/2010/01/ichi-killer-2001.html).
Dentre os comentários mais bacanas temos a já citada revelação de que o sêmen no título é real, que as tripas dos homens de Kakihara são provenientes de dois porcos e o diretor teve que usar essência de baunilha para que a produção aguentasse o cheiro, além de que a maioria das cenas foram filmadas em locações e não estúdios, sendo que utilizou-se muito sangue em CG exatamente para não emporcalhar os locais alugados,rs.

O trabalho de Ichi (FONTE:https://battlenerds.wordpress.com/2009/02/11/ichi-the-killer/).
Já que citei os CG, os efeitos especiais do filme são bem competentes e muitas vezes passam despercebidos. É até divertido ver Hideo Yamamoto perguntando o que é ou não é efeito nas cenas. Também é interessante como muitos "defeitos" do filme passam despercebidos pelo telespectador e não para o diretor. Um desses pontos é quando Miike diz que seria impossível Ichi cortar um homem ao meio com seu chute, uma vez que as lâminas das botas não têm comprimento o suficiente. Sinceramente, eu vi a cena umas 3 vezes e sequer tinha me tocado disso,rsrs. Mas no final o próprio diretor admite que apesar de não ser real os fãs gostam de ver pessoas sendo cortadas ao meio,rsrs.

 A tal cena,rs (FONTE:http://www.freakinawesomenetwork.net/2012/11/asia-film-review-ichi-the-killer/).

- O filme que Kakihara roubou: os atores!

FONTE:http://www.zero-credibility.com/2011/05/ichi-the-killer/

Há ainda muito o que se falar sobre os bastidores e méritos da produção, como a excelente trilha sonora composta por Seiichi Yamamoto, mas uma coisa que definitivamente não pode ser deixada de lado é o elenco de atores.
A primeira coisa que vem a mente de quem pega qualquer edição do DVD do filme é que o homem com o rosto todo cortado na capa é o tal Ichi. Sim, esse é o engano muito comum para todos que nunca viram o filme ou leram o mangá. A verdade é que Kakihara já era um personagem forte na história original, mas ele e Ichi meio que se equiparavam e disputavam igualmente o interesse do leitor no mangá. Isso definitivamente não acontece na adaptação. Kakihara rouba a cena no filme e pode sim ser encarado como o grande protagonista. Tadanobu Asano tem muitos filmes em sua carreira, tendo inclusive participado da adaptação de Thor (2011), fazendo o papel de Hogun, um dos guardiões de Asgard. Mas definitivamente o que marcou sua carreira, ao menos no cenário internacional, foi o papel do Yakuza masoquista. Asano deu vida nova a Kakihara. Ele é ao mesmo tempo o personagem dos mangás, mas também é um novo personagem. E não falo só de sua aparência, porque no original Kakihara parece mais velho e feioso que Asano, enquanto no filme ele ficou com uma pinta de galã. O Kakihara original era como um tiozinho depravado, enquanto no filme ele ganha um ar de Coringa de Heather Ledge. Por falar nisso, é meio inevitável fazer uma comparação entre Kakihara e o vilão de Batman, ainda mais na cena em que ele corta a língua, uma vez que as cores de suas roupas são as típicas do Coringa (roxas e verdes). Não que um tenha relação com outro, mas é algo curioso de se notar. Voltando a Tadanobu Asano, nas entrevistas podemos notar que ele é meio que considerado um ator problemático, ainda que muito talentoso. Não que ele seja problemático com os outros atores ou companheiros de equipe, só que ele talvez seja um ator que deseje fazer outra coisa e não atuar. De qualquer forma, a personalidade que ele deu a Kakihara, com grande ajuda de Miike é claro, fizeram dele a grande estrela do filme, tanto que é seu rosto que toma a maior parte do material de divulgação. Novamente um comparativo com o Coringa, nos dois filmes que ele surgiu, Batman de Tim Burton e o mais recente de Nolan, ele acabou roubando a cena e "apagando" o protagonista.
Por falar em protagonista, não posso deixar de citar o ator Nao Omori. 

Ichi, o chorão (FONTE:http://www.gopixpic.com/600/ichi-the-killer-movie-tormentedfilmscom/http:%7C%7Ctormentedfilms*com%7Cwp-content%7Cuploads%7Cichi-the-killer-movie*jpg/).

O interprete de Ichi é filho de um famoso ator japonês chamado Akaji Maro e irmão mais novo do diretor Tatsushi Omori. Ou seja, ele tem o DNA do cinema na família. Ainda que sua atuação fique muita apagada por conta do brilho de Asano, Omori consegue fazer de Ichi um personagem até certo ponto carismático. É claro que é muito difícil qualquer telespectador se identificar com Ichi, mas isso é algo que também acontece com o mangá e, sinceramente, se você se identificou totalmente com qualquer personagem da história, sugiro que procure ajuda psicológica,rsrs. Interessante é que Omori é um ano mais velho que Asano, sendo que Ichi deveria ser mais novo que Kakihara. Não que isso atrapalhe o filme, mas sempre que via Omori eu me perguntava porque Ichi era tão velho,rsrs. Outra coisa é que o ator que deu vida a Ichi é bem mais carismático na vida real, ao menos nas entrevistas, e é de certo modo uma pena que tanto o roteiro quanto a pressão de ter que atuar com um superstar como Asano tenham diminuído seu papel no filme. De qualquer modo, a duração do longa também não dá muito espaço para um crescimento de Ichi, coisa que ocorre mais no mangá.
Um fato muito interessante na produção é que Takashi Miike não se limitou a atores profissionais para o elenco e incluiu algumas boas surpresas. Isso é algo que aqueles que simplesmente assistirem o filme não podem perceber, mas as entrevistas e material extra ajudam a esclarecer e no final só aumentam o valor tanto do filme como dos atores. Me refiro aos interpretes de Jijii-san e Kaneko. Ambos não são atores por profissão e na verdade são colegas diretores de Takashi Miike.
Shinya Tsukamoto, o interprete de Jijii-san, é na verdade um diretor cult japonês, sendo o responsável por (pasmem) o "lendário" filme "Tetsuo: The Iron Man" (1989) e suas sequências.

O misterioso Jijii-san (FONTE:http://evilplacezone.blogspot.com.br/2012_11_01_archive.html).
Apesar de se considerar um ator amador, Tsukamoto já participou de outros filmes, inclusive de Miike. Ele fez uma participação no segundo filme da série Dead or Alive (Dead or Alive 2: Birds de 2000) e também estrelou o  filme de terror Marebito (2004) do diretor Takashi Shimizu (de O Grito). Ele até mesmo fez a voz de Vamp em Metal Gear Solid 4! Em uma das entrevistas do material extra de Ichi, ele afirma que Takashi Miike será lembrado como "o rei dos filmes cult" quando morrer, então um repórter diz que ele (Tsukamoto) é o rei dos filmes cult,rs. O diretor responde com modéstia e diz que realmente Miike terá o título, uma vez que ele consegue produzir muito mais filmes em um tempo menor. Realmente, Takashi Miike é conhecido não só por lançar filmes provocantes, mas também por fazer isso muito frequentemente. Por isso é considerado um diretor muito ocupado.
O outro diretor a atuar é Hiroyuki Tanaka, mais conhecido pelo nome artístico de Sabu. Apesar de ter uma filmografia menos impressionante que Tsukamoto no quesito "títulos conhecidos por nós Ocidentais", Sabu tem no seu currículo títulos como a adaptação do mangá Usagi Drop de 2011 e a atuação em um filme dirigido por Katsuhiro Otomo (do mega pop Akira), intitulado World Apartment Horror de 1991. Esse último é interessante por se basear em uma história escrita pelo saudoso Satoshi Kon (de Perfect Blue, Paprika, Paranoia Agent, etc).

O Kaneko (FONTE:http://evilplacezone.blogspot.com.br/2012_11_01_archive.html).
Ainda que tenha títulos expressivos no currículo, mesmo como ator, Sabu também se mostra bastante humilde e inclusive diz que sua atuação é a pior do filme,rs. Felizmente ele está errado e conseguiu interpretar muito bem Kaneko, um dos raros personagens "normais" presentes no filme e no mangá (senão o único normal). Interessante notar que muitas vezes Kaneko tem uma atenção maior que até mesmo Ichi. É, Ichi realmente não foi o primeiro nesse filme :P
Por fim, quero ainda citar o interprete dos irmãos Saburo e Jiro, o também diretor Suzuki Matsuo. Além de diretor, Matsuo é também roteirista, escritos e ator. Apesar disso, seu currículo não é tão expressivo para nós ocidentais (ainda menos que o de Sabu). Entretanto, eu achei interessante a interpretação que ele deu aos gêmeos, claro que isso tem o dedo de Miike também. Saburo e Jiro eram personagens odiosos no mangá original (eu citei isso na minha análise), mas no filme eles são até que "menos odiosos". A cena de Saburo o cão farejador é hilária e ao mesmo tempo muito bizarra. O momento em que ele surge na janela do capanga de Jijii-san, ou melhor, sua silhueta surge, arranca arrepios pela bizarrice. E talvez isso seja só impressão minha, mas ele me recordou um personagem do filme da Xuxa, "Xuxa contra o Baixo-Astral",rsrs.

Jiro, Saburo e Kakihara (FONTE:http://www.i-mockery.com/minimocks/ichithekiller/page4.php).
Ainda que a história e aparência dos gêmeos tenham mudado (agora eles são policiais corruptos), eles continuam dementes e com uma rivalidade entre si. Até o trigêmeo falecido é mencionado rapidamente, mostrando o respeito dos produtores pelo material original! Em uma entrevista, Miike diz que foi uma vantagem usar um ator para ambos os gêmeos porque assim ele economizou no salário,rsrs. Espertinho!

- Concluindo...

FONTE:http://blogs.dickinson.edu/eastasiancinema/asian-extreme/plot-summary-ichi-the-killer/
Apesar de sua excelente produção, boas atuações, efeitos, trilha sonora e ser fiel ao mangá, "Ichi O Assassino" não é um filme para todos os gostos. Muitos vão achar ele repugnante e alguns nem sequer irão terminar de assistir. Após ler o mangá e rever o filme para essa análise, confesso que o achei muito menos brutal e nojento que antes. Sim, o mangá é muito mais violento e grotesco que o filme. O próprio Miike diz isso nos comentários do DVD, quando confessa que há coisas que Yamamoto podia fazer no mangá mas eles não podiam reproduzir na tela. De qualquer forma, como o próprio diretor diz, o filme é uma adaptação que respeita o material original e mostra que os produtores são fãs deste, diferente do que acontece na maioria das adaptações. Ainda que não agrade todos os públicos, Ichi the Killer é um filme muito bem feito e dirigido, mostrando mais uma vez o talento de Takashi Miike e dos atores envolvidos. Fora que a Europa Filmes está de parabéns pela bela edição nacional, que conta com um disco só de extras e o filme em versão dublada.
Bom é isso. Obrigado pela leitura e um feliz ano novo para todos! Em 2015 estamos de volta!
Até mais!

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