domingo, 5 de janeiro de 2020

Sessão da Meia-Noite #29: Drácula (2020)

FONTE: https://www.joblo.com/horror-movies/news/netflixs-dracula-final-trailer-proves-blood-is-everything-you-need

Fala moçada! 2020 começou com um lançamento muito aguardado pelos fãs de terror espectadores da Netflix: Drácula. Desde o anúncio da série, que é feita em parceria com a BBC, os fãs do vampirão ficaram na expectativa para ver como seria a nova visão do lendário lorde das trevas. Neste 04 de janeiro, finalmente testemunhamos o lançamento da série. Mas será que ela vem para concretizar a imagem do Conde Drácula do ano de 2020, ou é apenas mais um produto que tenta "sugar" a fama do famoso vampiro? Venham comigo e descubram minhas impressões sobre esta nova releitura.
Boa leitura e não deixem de comentar.
R.

Sangue novo?

FONTE:https://deadline.com/2020/01/dracula-loses-uk-viewers-ahead-of-netflix-release-1202820028/
Essa nova visão de Drácula surge pelas mãos de Mark Gatiss e Steven Moffat, ambos conhecidos como produtores de duas séries de peso da BBC One: Sherlock e Doctor Who. O ator dinamarquês Claes Bang foi escalada para viver o papel principal. Esse é um dos grandes acertos da série, já que o ator lembra muito as encarnações clássicas do vampiro, como aquela interpretada por Christopher Lee. Já adianto que a interpretação de Claes Bang para o lorde das trevas é a melhor coisa da série.

FONTE:https://moosegazette.net/dracula-is-coming-to-netflix-tonight/225056/
A experiência de assistir Drácula pode ser descrita como surpreendente. A primeira surpresa vem logo pelo formato da série. Muitos assinantes da Neflix, inclusive eu, ficaram surpresos ao ver que a série tem apenas 3 episódios. Na verdade cada episódio possui uma duração de 1h30m, de modo que podem ser considerados três filmes feitos para televisão, no melhor estilo das mini-séries que adaptam os livros de Stephen King lançadas nos anos 90, como It- A Coisa e A Dança da Morte.

Drácula (Claes Bang) e Jonathan Harker (John Heffernan)
FONTE: https://decider.com/2020/01/04/dracula-netflix-stream-it-or-skip-it/
A trama se inicia de modo muito similar ao livro de Bram Stoker (e às inúmeras adaptações que este já recebeu desde o lançamento em 1897), com Jonathan Harker, interpretado por John Heffernan. Harker é um advogado britânico que se deslocou até a Transilvânia para tratar dos negócios do Conde Drácula. A série se inicia com Harker dentro de um convento nas proximidades da Transilvânia. O rapaz está em um estado muito debilitado e logo é interrogado pela irmã Agatha (Dolly Wells) que logo descobrimos é especialista em assuntos sobrenaturais, sobretudo vampiros. A irmã deseja que Harker conte em detalhes como foi sua estadia no castelo do Conde Drácula, apesar de ele já ter escrito um longo manuscrito relatando sua aventura. Acontece que o livro original de Bram Stoker é narrado na forma de cartas e diários dos personagens, logo esse manuscrito mostrado no início dá a entender que seria a parte descrito por Jonathan no livro original.

Irmã Agatha (Dolly Wells) e a madre superiora (Joanna Scanlan)
FONTE: https://metro.co.uk/2019/10/27/first-trailer-bbc-netflixs-dracula-series-looks-completely-terrifying-10993158/
É através do relato de Jonathan que se inicia um flashback onde vemos o que aconteceu na sua estadia no castelo. Para quem não está familiarizado com a história, o Conde deseja comprar uma propriedade na Inglaterra e por isso requisita os serviços do advogado. Um ponto que me agradou nesta séria foi que finalmente ficou claro o porque Drácula tem uma aparência velha e decrépita quando Harker chega e, com o passar do tempo, ele se torna jovem. No filme de Francis Ford Coppola de 1992, "Drácula de Bram Stoker", não tinha ficado claro pelo menos para mim o porque dessa transfiguração. Pode ter sido lentidão minha,rsrs, mas naquele filme dá a impressão que Drácula simplesmente mudou de forma para ir para a Inglaterra. Por outro lado aqui fica tudo esclarecido: Drácula na verdade recupera sua juventude após sugar o sangue de Harker. E mais: a série dá a entender que o vampiro deseja ir para a Inglaterra pois na sua terra natal ele já não é capaz de se alimentar (talvez porque os aldeões estão mais precavidos). Esse foi outro ponto que me surpreendeu na série. Além disso, fica um pouco implícito que Drácula não conhece muito bem as limitações de seus poderes, de modo que ele mesmo está fazendo testes para determinar o que pode feri-lo, mata-lo, etc. Isso é totalmente coerente com o título deste primeiro episódio, "As Regras da Besta". O primeiro episódio é muito divertido e interessante, exatamente por nos mostrar quais são as regras que Drácula segue, como evitar cruzes e o sol. Apesar de ter muitas semelhanças com a história original de Bram Stoker, aqui já vemos algumas novidades, que surgem de modo inesperado para surpresa do espectador. Para terem uma experiência completa, aconselho que assistam a série sem ler nenhuma crítica ou mesmo a página da Wikipédia,rsrsrs. 

Jonathan após sua estadia no castelo (me lembrou o filme Do Além)
FONTE: https://scifiempire.net/wordpress/review-of-bbcs-dracula-ep-1-the-rules-of-the-beast/
 Após o final sangrento do primeiro episódio, o segundo episódio continua com a adaptação da história original, mostrando a viagem de Drácula até a Inglaterra à bordo do Demeter. Esse episódio se torna interessante pois, diferente do que ocorre no livro, Drácula resolve se misturar aos passageiros, ao invés de ficar apenas no seu caixão. Isso inclusive é debatido pelo vilão em uma cena muito divertido, no qual ele diz que seria muito chato ficar só no porão do navio. O clima deste episódio me lembrou um pouco o filme "Assassinato no Expresso Oriente" (1974 e que ganhou remake em 2017), baseado no livro de Agatha Christie. Digo isso pela investigação que começa a ocorrer assim que Drácula inicia sua caçada por novas vítimas no navio. Também merece destaque o fato do lorde das trevas ser capaz de absorver as memórias e mesmo habilidades das pessoas cujo sangue ele bebe. Isso é demonstrado muito bem em uma cena na qual após beber sangue de um rapaz que fala alemão ele é capaz de conversar fluentemente na língua alemã com outra passageira.

FONTE: https://metro.co.uk/2020/01/02/bbc-dracula-were-these-the-clues-pointing-to-that-game-changing-ending-all-the-questions-after-episode-2-11993034/
É ao final do segundo episódio que a série toma uma reviravolta que vai surpreender à todos. Obviamente não vou me alongar mais nesta parte, uma vez que é o que considero o maior spoiler da série. Como o intuito aqui não é estragar a surpresa de ninguém, prefiro ir agora partilhar minhas impressões e o que me agradou e desagradou na série.

No meio do caminho...

Drácula me lembrou o ator brasileiro Paulo Betti (FONTE:https://www.digitalspy.com/tv/a30384485/dracula-inside-no-9-easter-egg/).
Logo que surgiram as primeiras notícias de que a Netflix lançaria uma série recontando a história de Drácula, uma manchete muito comum era de que o personagem seria assumidamente bissexual. Isso está sim presente na série, com o vampiro sendo aquele ente sedutor que atraí ambos os sexos. Na verdade tal característica sempre ficou meio implícita nos vampiros de modo geral. Porém, isso é um ponto que talvez seja a partida para uma discussão maior: a série não se decide se quer ser uma adaptação fiel de Bram Stoker ou então modificar totalmente a história do lorde das trevas.

FONTE: https://br.shotoe.com/dracula-netflix-st_167701/images/review-netflixs-dracula-is-a-bloody-mess-sn_1576277/
A série flerta com os dois objetivos, mas nunca tem a coragem necessária para assumir plenamente qualquer um dos dois. Após 4h30m acompanhando o que os criadores quiseram fazer com o vampiro, tive a sensação de que aquilo tudo era desnecessário. Está certo que o seriado tem cenas muito legais, como a transformação de Drácula em lobo, mas do ponto de vista de história, não tem nada de novo. A mitologia por trás do vampiro continua inalterada e mesmo quando a série se propõe a revelar o porque dos medos do conde, a resposta é tremendamente covarde e preguiçosa. Esse fato de "ficar em cima do muro" entre um Drácula totalmente novo e uma trama fiel ao livro original soou para mim como uma preguiça dos produtores. Afinal, se você deseja assistir uma adaptação fiel de Drácula, eu recomendo "Drácula de Bram Stoker" do Coppola. Agora se você deseja um Drácula novo e totalmente adaptado ao nosso tempo, seria melhor ver Drácula 2000, com Gerard Butler. Pois esse ao menos ousa o suficiente para mudar até a origem do vampiro e explicar todos os seus pontos fracos. Enquanto isso, essa série de Drácula fica no meio termo entre os dois, nunca se decidindo o que deseja ser.

Conclusão

FONTE:https://www.standard.co.uk/stayingin/tvfilm/dracula-bbc-review-a4325041.html
Ainda não se sabe se a série terá uma nova temporada, mas ao meu ver não se faz necessário. Ainda que o Drácula de Claes Bang seja muito carismático e a melhor coisa da série, a trama indecisa não acrescenta nada de novo à mitologia do vampiro. Apesar das boas surpresas referentes à mudanças e plot twists, o seriado termina como apenas mais uma adaptação do livro de Bram Stoker, dentre as dezenas já existentes. Se o leitor deseja uma boa aventura vampiresca na Netflix, eu aconselho a adaptação de Castlevania, que pelo menos ousa modificar a persona de Drácula.
Muito obrigado pela leitura e não deixem de comentar.
Até mais!

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