sábado, 28 de dezembro de 2019

Sessão da Meia-Noite #28: A Cura (2016)

FONTE:https://www.clubecinema.com.br/vencedor-do-oscar-diretor-gore-verbinski-retorna-ao-terror-com-cura/

Fala moçada! Os meus dois leitores habituais devem saber que muitas vezes eu já me referi à tal filme como "uma história batida" ou com "elementos clichês que estragam a surpresa de quem assiste". Isto foi especialmente verdade na minha crítica sobre o longa "Corra!" (Sessão da Meia-Noite #27). Porém, para minha surpresa, acabei queimando a língua ao assistir o excelente "A Cura" (A Cure for Wellness, no original). Gore  Verbinski, que faturou o Oscar de Melhor Animação por Rango (2011) consegue pegar um roteiro com uma história não tão original e transformar em um incrível suspense que mantém o espectador grudado na cadeira até o seu final (ainda que ele tenha pistas do que está havendo). Então apertem os cintos e venham comigo conhecer este conto fantasmagórico saído das mãos do diretor de O Chamado e Piratas do Caribe.
Boa leitura e não deixem de comentar.
R.

Enredo e Direção

FONTE: http://www.olharimparcial.com/2017/02/a-cure-for-wellness-cura.html
"A Cura" tem uma história simples. Na verdade se eu escreve-se aqui a sinopse do filme com spoilers, muitos iriam achar que se trata de um filme simplório. Todavia, o mérito do longa não está no enredo, mas na forma como ele é transportado para tela. O roteiro de "A Cura" foi escrito por Justin Haythe ("O Acordo", "O Cavaleiro Solitário") baseado em uma história escrita por ele e o diretor Gore Verbinski. Esta última teve como inspiração o livro "A Montanha Mágica" de Thomas Mann. O livro inclusive aparece no filme sendo lido por um dos enfermeiros. Porém, diferente do que muitos podem pensar, Verbinski e Haythe emprestaram apenas a locação que aparece no livro, um sanatório nos Alpes Suíços, para seu filme. A história do livro é totalmente diferente e está mais preocupada em discutir as relações entre as classes sociais na Europa antes da Primeira Guerra Mundial do que explorar os mistérios do sanatório, como faz o filme.

Lockhart (Dane DeHaan)
(FONTE: https://jackiekcooper.com/alls-well-ends-well-cure-wellness-doesnt/)
O filme conta a história de Lockhart, interpretado pelo ator Dane DeHaan (o Harry Osborn de "O Espetacular Homem-Aranha 2"). O jovem é um ambicioso executivo que trabalha para um empresa financeira de Nova York. Logo de cara é muito fácil não simpatizar com o rapaz: arrogante e prepotente, ele acredita ser capaz de passar por cima de qualquer um para atingir seus objetivos. Infelizmente para nosso protagonista antipático, uma de suas transações engenhosas (e criminosa) acaba sendo descoberta pelos diretores da empresa e ele é chamado para prestar contas. Na reunião, o conselho de diretores avisa Lockhart que eles estão prestes a anunciar uma fusão com outra financeira gigante. Além de atrair a atenção da Receita Federal, o que poderia denunciar a jogada de Lockhart (a qual os diretores chamam de amadora), o conselho precisa lidar com o "desaparecimento" de um de seus diretores, chamado Roland Pembroke. 

O conselho de diretores (FONTE:https://www.iamag.co/a-cure-for-wellness-official-trailer/).
Pembroke, que é descrito como um tipo que acredita em curas alternativas, cortou contato com a empresa desde que foi para um SPA localizado nos Alpes Suíços, onde dizem ter uma fonte de água com propriedades curativas. Para que a fusão desejada pela empresa ocorra, é necessário a assinatura de Pembroke. Porém, antes de cortar contato com a empresa, Pembroke enviou uma série de cartas para os diretores do conselho, nas quais descreve de modo aparentemente desconexo a necessidade de encontrar uma cura para seu estado. Os executivos acreditam que Pembroke perdeu o juízo e por isso incubem Lockhart de ir até o tal SPA e trazer o homem de volta a Nova York. Com isso eles pretendem matar dois coelhos com uma cajadada só: além de obterem a assinatura para realizar a fusão, pretendem também culpar Pembroke (que eles acreditam perdeu o juízo) pelas tramoias realizadas por Lockhart. Sem possibilidade de dizer não, o rapaz parte imediatamente para Suíça, em busca do tal SPA.

FONTE: https://www.newyorker.com/culture/richard-brody/the-tasteless-intricacies-of-a-cure-for-wellness
Chegando no local, Lockhart terá que lidar com a equipe de médicos e enfermeiros do SPA, comandada pelo diretor Dr. Volmer (interpretado por Jason Issacs, o eterno Lucius Malfoy  da série de filmes Harry Potter) que não está disposta a interromper o aparente sossego do lugar para satisfazer o jovem empresário. Porém, logo somos apresentados aos mistérios que cercam o SPA, incluindo a presença de uma jovem paciente misteriosa chamada Hannah, interpretada por Mia Goth ("Ninfomaníaca", "Suspiria").

Lockhart e a jovem Hannah (FONTE:https://weheartit.com/entry/318693017).
Seria muito fácil para o roteiro de Justin Haythe despejar toda história por trás do passado do SPA para o público logo no primeiro diálogo de Lockhart com os habitantes da vila onde o local fica. Porém, o roteirista toma a sábia decisão de fazer isso à conta gotas (com o perdão do trocadilho,rsrs). Neste ponto "A Cura" me lembrou os bons jogos de survival horror, onde a história vai sendo revelada aos poucos através da leitura de documentos e conversas com os NPCs. Outro ponto que segura a história é o fato de o roteiro apresentar múltiplos mistérios e não apenas se apoiar em um único mistério, como faz o longa "Corra!". Desse modo, ainda que surgem os temidos clichês do gênero, fica mais difícil para o espectador prever os próximos acontecimentos. Por fim a cereja do bolo é a direção de Gore Verbinski. O diretor, que já teve experiência no terror no ótimo remake ocidental de Ring, consegue criar uma atmosfera de suspense perfeita, com ótimas tomadas dos excelentes cenários e trilha sonora apropriada. Por falar nos cenários, eles são belíssimos, sendo que as locações estão localizas na verdade na Alemanha e não na Suíça. O espectador vai então se deleitar com os cenários de clima medieval, enquanto acompanha com interesse a trama.

Suspense visceral

Dr. Volmer (FONTE: https://collider.com/jason-isaacs-a-cure-for-wellness-interview/#images).
Ao longo dos 146 minutos do longa, Gore Verbinski nos presenteia não só com um suspense que prende a atenção, mas também cenas chocantes e que não poupam o espectador. Sem dar spoilers, destaco duas em especial. A primeira é uma das representações mais incríveis que já vi de um acidente de carro. Esta cena é totalmente inesperada e choca pela sensação de impacto do veículo, além do diretor filmar o interior do veículo, onde é possível ver os passageiros saltarem até o teto com a pancada. A segunda cena é mais violenta e perturbadora, na qual um dos pacientes tem seu dente destruído por uma broca de dentista antes de ter ele retirado. Sinceramente era algo que eu nunca esperaria ver assim, on screen, em uma produção mainstream. Acredito que essa cena está no mesmo nível de produções torture porn, como o já clássico "O Albergue".

FONTE:https://www.chicagoreader.com/chicago/a-cure-for-wellness/Film?oid=25314368
Como o SPA acredita na cura por hidroterapia, não faltam também cenas com água. Nessas o diretor consegue transmitir bem a sensação claustrofóbica de estar imerso em um dos tanques de tratamento do lugar. Inclusive a aparência dos equipamentos do SPA me lembrou o filme "A Casa da Colina", que passava-se em um antigo sanatório cheio de equipamentos de tratamento antiquados. "A Cura", por outro lado, não baseia seu mistério em fantasmas assombrando o lugar, o que é um alívio. Ainda assim, a grande revelação é, se analisada friamente, muito próxima dos filmes de terror clássicos, como aqueles produzidos pela Hammer nos anos 60. Mas como já disse na introdução, muito mais do que o mistério, está na forma com que ele é desenvolvido até entregar o desfecho ao espectador. E, ainda que ao final não restem dúvidas, o filme consegue se manter grudado na memória de quem assistiu principalmente devido ao clima criado pelo diretor e as cenas chocantes que vez ou outra surgem na tela.

Conclusão

FONTE: https://www.artofvfx.com/a-cure-for-wellness-tom-proctor-vfx-supervisor-double-negative/

"A Cura" é um daqueles filmes que quanto menos você saber sobre o enredo, melhor será sua experiência. Além disso, é um dos filmes que mais me agradou nestes últimos tempos, sendo portanto um prazer que eu possa divulgar aqui no blog. Caso você ainda não tenha assistido esta produção de 2016, não perca tempo e corra para assistir. Tenho certeza que terá momentos de suspense e terror garantidos.
Muito obrigado pela leitura e até mais!

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