domingo, 19 de agosto de 2012

Nanquim&Celulóide # 5: MPD- Psycho (1997- )

FONTE: http://forosdz.info/foro/manga-en-descarga-directa/288019-mpd-psycho-6-11-a/
Fala moçada! Depois de um post "viajado" e paranóico (alguém aí leu "PONTO DE VISTA" ?), vamos voltar a nossa programação "normal". Err, bem nem tanto, porque agora vou falar de um dos mangás mais "WTF?!" que já foram publicados aqui no nosso querido Brasil. E, olhem só que curioso, esta é a primeira vez que vou falar de um mangá que ainda se encontra em publicação no Japão e por isso não tem ainda um final.
Venham comigo e embarquem nesta viagem pelas diversas personalidades de Kazuhiko Amamiya e sua luta contra a Gakuso e seus assassinos do código de barras. Com vocês: MPD- Psycho!
Boa leitura e não se esqueçam de comentar!

R.


- Multiple Personality Detective Psycho:

FONTE: http://www.darkhorse.com/Books/14-639/MPD-Psycho-Volume-1
Multiple Personality Detective Psycho ( "Detetive de Multiplas Personalidades-Psicótico", em uma tradução literal) ou simplesmente MPD-Psycho, como é mais conhecido, é uma série escrita por Eiji Otsuka e desenhada por Shou Tajima. Seu nome em japonês é algo como "Taju-Jinkaku Tantei Saiko", que basicamente tem o mesmo significado do nome internacional. A série já passou por três revistas diferentes, todas da editora Kadokawa Shoten (famosa pela revista informativa New Type). Incialmente começou a ser publicada na revista "Shonen Ace", mas no ano de 2007 foi transferida para a "Comic Charge" e lá ficou até o cancelamento da revista, em 2009. Desde então passou a ser publicada pela "Young Ace".
Atualmente a série conta com 16 volumes encadernados (cerca de 96 capítulos), além de um livro que conta a biografia do famoso Lucy Monostone ("The Truth of Lucy Monostone", lançado em 2010) e uma auto paródia em 4 volumes, desenhada por Hirarin (não tenho informações sobre esta, mas fiquei curioso em saber como é :S).
No Brasil, a série começou a ser publicada em formato tankobon ( idêntico ao original) pela editora Panini no ano de 2009. Por ser uma série que ainda estava sendo publicada no Japão, a versão brasileira sofreu uma publicação irregular (apesar de na teoria ser mensal, cada edição saia em média a cada dois meses). O último volume lançado no nosso país é o 13 (por coencidência é o último que eu tenho também,rs). Recentemente entrei no site oficial da Panini para saber se haviam sido lançados novos volumes e, infelizmente, o 13º ainda é o último no checklist. Ou seja, MPD-Psycho é mais um daqueles mangás que se encontram na geladeira da Panini. Uma pena, já que já temos mais 3 volumes lançados. Mas acredito que um dia a série será concluída no Brasil ^^
Sobre os autores, é interessante falar que Eiji Otsuka pode ser considerado um mangaká "diferenciado".

FONTE: http://www.concordia.ca/now/what-we-do/research/20120125/a-japanese-cultural-icon-speaks.php
Nascido em 28 de agosto de 1958,  em Tanashi, Tóquio (atual Nishitokyo), Otsuka é professor da Escola de Graduação em Arte e Design na Universidade de Design de Kobe. Além de ser um mangaká de renome ( outro famoso trabalho seu, inclusive publicado no Brasil pela Conrad, é "Delivery Service of Corpse"), Otsuka é reconhecido como um estudioso dos mangás, animes, cultura pop e formas de narrativa do seu país, escrevendo até livros sobre os temas. Inclusive, ele até já deu palestras em universidades americanas sobre o assunto! Aqui um link que fala de uma delas: http://www.concordia.ca/now/what-we-do/research/20120125/a-japanese-cultural-icon-speaks.php.
Nisso já dá para ver que o cara não é um qualquer: ele tem uma vasta bagagem cultural, e isso é sentido quando lemos o enredo de MPD-Psycho. Sinceramente, fiquei de boca aberta ao saber de tudo isso o_O Só me fez admirar mais o mangá ^^
Sobre Shou Tajima, posso dizer que apesar de um currículo mais "normal" para alguém envolvido na produção de mangás, ele é dono de uma arte primorosa, realista e incrivelmente bela ^^ Além de viver com uma touca na cabeça :P Rsrsrs

FONTE: http://navarrobadia.blogspot.com.br/2010/07/sho-u-tajima-y-eiji-otsuka-autores-de.html
Antes de me ater ao enredo, quero dizer algo sobre o gênero do mangá. Lembram que no post sobre "Homunculus" eu havia dito que a linha que separa o "shonen" do "seinen" (por exemplo) é muito tênue? Pois bem, MPD-Psycho é exemplo claro disso. Pelo próprio nome da revista onde inicialmente foi publicado ("Shonen Ace") pode-se imaginar que se trata de uma obra shonen. Maas ai que entra o problema: MPD-Psycho é muito violento, tem cenas de nudez explícita e um roteiro complexo, muito mais adequado para um seinen. Isso sem falar de seus traços, típicos do seinen. Ou seja, não é recomendado para menores (definitivamente)! Sobre a violência em sua obra, Eiji Otsuka escreveu um posfácio muito interessante (que até foi publicado na edição brasileira). Nele o autor "justifica" a violência explícita dizendo que quis demonstrar o real significado da morte, que segundo ele se tornou um conceito abstrato nos mangás atuais. Ele exemplifica isso com o caso de um mangá em que o leitor é informado que milhões de habitantes da Terra foram dizimados, mas nenhum só corpo é mostrado. Para Otsuka, a falta de sensibilidade dos jovens à violência pode ser reflexo deste caráter abstrato que foi dado à morte. Realmente, muito interessante...
Mas agora vamos ao enredo!

- A história:

Yosuke Kobayashi (FONTE:http://www.adoroquadrinhos.com.br/criticas/mpd-psycho-o-ser-humano-na-sua-forma-mais-distorcida/).
MPD-Psycho começa com o julgamento de um homem chamado Yosuke Kobayashi. O juiz o condena a prisão por assassinato e negligência policial. Mas o homem diz que isso está errado e que ele não é Yosuke Kobayashi e sim Kazuhiko Amamiya. O juiz ignora isso e ele é mandado para prisão de qualquer forma.
Através de indas e vindas no tempo conhecemos a história que o levou até ali: Yosuke Kobayashi era um profiler (especialista em traçar o perfil psicológico de assassinos em série) da polícia metropolitana de Tóquio. De personalidade calma e averso a violência, o jovem tinha uma vida feliz com sua namorada chamada Chizuko Honda. Porém, após uma promoção, ele passa a chefiar a investigação de um assassino serial que está esquartejando jovens mulheres. Com seu colega, o policial engraçado Tooru Sasayama, Kobayashi prosegue na investigação sem ter pistas do suspeito.

O "trabalho" do assassino esquartejador (FONTE: http://www.portalcomic.com/foro/phpBB2/viewtopic.php?p=62063&sid=4d102d7de6466fb8e9d259ff23d876ea).
Contudo, o assassino vê a imagem de Kobayashi pela televisão e o identifica como sendo "igual a ele" (um psicopata). Ele então rapta a namorada de Yosuke e entrega ela, ainda viva, em uma caixa no distrito policial.

FONTE: http://napauta-to.blogspot.com.br/2012/04/manga-mpd-psycho-de-eiji-otsuka-e-sho-u.html
Após esse evento traumático, Kobayashi consegue encontrar o assassino (mesmo porque ele próprio se identificou na caixa, além de ir entregar a encomenda pessoalmente) e o encurralar. O assassino então explica que só fez aquilo com a namorada do policial pois os dois são da mesma láia e se ele não fizesse isso, cedo ou tarde, Kobayashi ia acabar fazendo o mesmo. Também descobrimos que Chizuko estava viva, mas o próprio Yosuke desligou os aparelhos no hospital, para poupá-la. O esquartejador (que esqueci o nome,rs) começa a rir loucamente e é então que... Yosuke muda de personalidade!
Ele se intitula como Shinji Nishizono e diz não suportar mais a risadinha irritante do assassino. Por fim ele acaba executando ele à tiros. Logo a polícia chega e prende o policial, só que este afirma que já não é Yosuke, mas sim Kazuhiko Amamiya.

Yosuke vira Shinji (FONTE: http://www.tumblr.com/tagged/multiple-personality-detective-psycho).
Toda a cena é filmada por Kikuo Toguchi, um fotográfo/cameraman/repórter freelancer que trabalha para uma rede de tv estatal e está sempre por perto da polícia para encontrar algum furo de reportagem.

Kikuo Toguchi (FONTE: http://myanimelist.net/character/23663/Kikuo_Toguchi).
Amamiya é então preso e condenado, como vimos no início do mangá. Durante sua reclusão, ele recebe visitas de Machi Isono, uma psiquiatra que trabalha na polícia de Tóquio e era colega de Kobayashi. Durante o tratamento, ela acaba dignostiando o ex-policial como sendo vítima do "transtorno de personalidade multíplas". Como o próprio nome diz, os que sofrem deste transtorno desenvolvem personalidades diferentes. Ela planejava usar isso na defesa de Kobayashi, mas o mesmo (na verdade, agora Kazuhiko Amamiya) se recusa, já que não acredita que sua sentença possa ser revertida. Durante o tempo em que está na prisão, atráves de Machi, Amamiya utilizar se talento como profiler para ajudar a polícia a resolver casos de assassinos seriais (Amamiya é ainda mais talentoso que Kobayashi como profiler). Um desses casos é o de corpos que têm sido encontrados com pedaços faltando. Amamiya faz o perfil do criminoso e Machi o repassa para Sasayama, que na verdade é quem está pedindo para ela fazer isso. O mesmo prefere não visitar o ex-policial pois, segundo o próprio, ele não é Kobayashi (que morreu) e sim outro.

Tooru Sasayama (FONTE: http://myanimelist.net/character/19747/Tooru_Sasayama).
Machi Isono (FONTE: http://myanimelist.net/character/12673/Machi_Isono).
Machi pretende se aposentar da polícia e abrir um escritório particular, quando Toguchi sabe disso resolve entregar para ela a fita que mostra o momento da "morte de Yosuke Kobayashi" e o nascimento de Amamiya. Assistindo a fita, Machi descobre sobre a terceira personalidade e quem realmente matou o assassino esquartejador: Shinji Nishizono.
Quando Kazuhiko Amamiya é libertado da prisão, por ter cumprido toda a pena, Machi o está esperando e convida o homem para ser seu empregado no escritório criminalístico Isono. Sem ter onde ir, ele aceita e espera encontrar respostas para sua situação.
Um tempo depois, seguindo o perfil que Amamiya havia traçado na prisão, a polícia de Tóquio chega até o assassino que estava deixando suas vítimas com pedaços faltando. Se trata de uma moça que praticava canibalismo. Porém, durante sua prisão, ela acaba cortando a própria garganta com gilete e morrendo. Amamiya começa a investigar o caso e percebe que tanto a atual assassina, quanto o assassino esquartejador que ele (na verdade Shinji :S) matou tinham seus nomes cadastrados no banco nacional de olhos. Lendo o laudo da autopsia da asssassina canibal, Kazuhiko descobre que ela tinha uma mancha parecida com um códigos de barra no olho esquerdo.
Antes que possa ficar intrigado com isso, o detetive acaba entrando em um novo caso: a polícia de Tóquio descobriu cadáveres de mulheres enterrados em um parque. Para espanto de todos, os mesmos tinham o cérebro amostra e flores haviam sido plantadas neles.
Após uma investigação, Kazuhiko acaba relacionando o crime à um arquiteto chamado Suguro Ueno, que projetou um café próximo à cena do crime (que por acaso se chama "Flower Children").

Suguro Ueno e sua "flor"(FONTE:http://myfigurecollection.net/item/94349).
Ueno dá uma entrevista ao programa de Toguchi e diz ser muito influenciado por um cantor dos anos 70 chamado Lucy Monostone, que seria um ícone da contra-cultura americana e também um terrorista.
A polícia se prepara para invadir o apartamento de Ueno, mas ele recebe uma ligação de um sujeito gago que o avisa e foge, deixando uma armadilha para a polícia.
Após isso, Suguro se encontra com seu informante que descobrimos ser... Amamiya? Na verdade se trata de outra personalidade do detetive, que se chama Kiyoshi Murata. Porém, ele avisa que Shinji Nishizono quer falar com ele. Shinji então troca de lugar com Murata e parece que ele e Ueno já se conheciam de antes. Contudo, Shinji acaba dopando Ueno...
Dias após isso, a polícia encontra Ueno morto, como as mulheres que ele matava, "plantado" no solo, sem o olho esquerdo.
Logo, Machi reencontra Amamiya, que diz não se recordar o que fez durante aqueles dias. Por fim ele faz uma revelação: ele também possui um código de barras em seu olho esquerdo!

FONTE: http://www.readaboutcomics.com/2007/11/23/mpd-psycho-vol-1-2/
E isso é só o começo de uma trama que envolve uma organização secreta disposta a criar assassinos, chamada Gakuso, o governo japones e o ídolo falecido, Lucy Monostone!

- Complexo e inteligente!

Lucy Monostone (FONTE:http://garotadosquadrinhos.blogspot.com.br/2011/08/mpd-psycho.html).
O que dizer deste mangá? Para mim ele é um dos mais inteligente que eu já li! E imprevisível. Ninguém, eu disse ninguém nesta história está livre de ser morto. E a dado momento, percebemos que a Gakuso envolve muito mais gente do que pensavamos. Isso pode até ser considerado um ponto fraco: o enredo acaba ficando muito confuso algumas vezes e alguns pontos são obscuros demais, o que acaba gerando algumas contradições. Mas no geral, o mangá te prende do início ao fim (eu reli tudo antes de escrever isso, e garanto que não conseguia parar antes do final do volume).
O enredo que eu descrevi acima só engloba o primeiro volume do mangá! No decorrer da história muita coisa muda e aparecem muitos personagens interessantes (infelizmente a maioria não dura muito,rs). E revelações é o que não faltam! Inclusive o final do volume 13 traz uma revelação incrível sobre um parentesco entre um personagem principal e o próprio Lucy Monostone! Por falar nele, o astro malucão é tão bem retratado pelo autor que muita gente pode até pensar que ele realmente existiu (inclusive eu já achei isso,rs).
A série fez tanto sucesso que em 2000 ganhou uma adaptação em 6 episódios live-action de aproximadamente 50 minutos cada, dirigidos por ninguém mais ninguém menos que Takashi Miike, diretor de Ichi The Killer, entre outros filmes de sucesso. Eu comecei a assistir a série e talvez fale dela aqui no blog, mas posso adiantar que o enredo é bem diferente do mangá (apesar de ter na trilha uma música de Lucy Monostone :O). Em um dos episódios há até a participação de Chiaki Kuriyama, famosa por participar no filme Kill Bill e em Battle Royale.

Capa do DVD da série live-action (FONTE: http://www.cinemotions.com/affiche-MPD-Psycho-tt27181).
- Finalizando.

FONTE: http://www.komixjam.it/mpd-psycho-approfondimento-kj/
MPD-Psycho é recomendadíssimo para quem procura um mangá diferente, surpreendente e com uma trama inteligente. O autor ainda faz várias citações à mangás, animes e elementos da cultura japonesa (felizmente a maioria foi muito bem traduzida e explicada pela Panini) e até encontra espaço para piadas,rs. Por isso, você que ainda não embarcou no mundo de Kazuhiko Amamiya e suas muitas personalidades, não perca mais a chance e leia MPD-Psycho. Garanto que não vai se arrepender ;)
Até mais!
 

4 comentários:

  1. Muito bem analisado,
    sinceramente é um dos melhores mangás seinen já lançados na história dos mangás.

    A trama é demasiadamente complexa e surpreende até para os leitores mais atentos, mas tudo isso faz parte de um roteiro muito elaborado nos seus mínimos detalhes. Alguns chegam a criticar alegando que falta sentido, mas na verdade os que proferem tais acusações costumam ser leitores assíduos de shonem que gostam de enredos simples em que as coisas se resolvem facilmente e que o final é previsível, o fato de não conseguir entender perturba muita gente impaciente, sendo que o principal acaba sendo prejudicado pela ansiedade, degustar todo o sentimento contido nesse mangá. Se você é ansioso demais e gosta de coisas que fazem sentido desde o início até o fim esse mangá pode lhe trazer problemas, já que seu nível de realidade é alto em vários aspectos e o mundo real nem sempre tem lógica. A teoria conspiratória de MPD é uma das mais bem elaboradas de uma história de ficção, é preciso muito estudo para vincular os fatos como o autor faz e é necessário muito discernimento para visualizar a tênue linha de razão que conecta as partes do roteiro, tudo através de uma perspectiva insana como os personagens, mas que fará todo o sentido se você conseguir analisá-la além da mera razão prática.

    Sou um grande admirador da obra, não fanático, mas não posso deixar de elogiar os méritos do mangá e se tiver alguma coisa pra reclamar só posso citar a baixa de tensão do enredo na mangá 8, mas foi algo pensado para grandes surpresas mais a frente.

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    1. Muito obrigado pelo excelente comentário Carlos. Está muito bem escrito, parabéns. Comentários como o seu só engrandecem o blog ;)
      Realmente concordo que MPD-Psycho é um dos melhores seinen e temos sorte de ter sido publicado no Brasil. Espero que algum dia seja concluído aqui.
      Sobre o volume 8, só não achei muito legal o lance das asas, mas de resto está ok. Acho também que o autor teve muita coragem em tomar este rumo na história. O meu favorito, por enquanto, é o volume 11: o flashback é muito bom e me fez gostar de Shinji Nishizono. Ele e Bai-san formavam uma dupla incrível (e engraçada,rs).
      Abraço.

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  2. Só posso dizer que entendi quase nada apesar de ter lido no passado o 1° volume, mas pelo que tu disseste acho que voltarei a ler

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    1. A história é meio enrolada mesmo Roberto, mas se tiver uma oportunidade dê outra chance para o mangá que você não vai se arrepender :D Obrigado pelo comentário!

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