sábado, 21 de julho de 2012

Nanquim&Celulóide # 2: Double Pack - Hideo Yamamoto (Parte I)

FONTE: http://anime-max-anime.blogspot.com.br/2009_06_01_archive.html
Fala moçada! Voltando com mais um post da "coluna" Nanquim&Celulóide, falando sobre anime e mangá! Só que dessa vez, vou fazer algo diferente: não falarei sobre uma obra apenas, mas duas obras que têm em comum o mesmo autor: Hideo Yamamoto. Esta edição de Nanquim&Celulóide vai ser dividida em duas partes: na primeira vou falar sobre este insano mangá chamado Koroshiya 1 (mais conhecido mundialmente como Ichi the Killer). E na segunda parte, vou abordar a obra seguinte do autor, o extremamente psicológico Homunculus! Então venham comigo neste mergulho na mente perturbada de um dos autores de mangá mais bizarros que já vi: Hideo Yamamoto!

R.



- Hideo Yamamoto: gênio ou louco?

FONTE: http://www.anime-planet.com/people/hideo-yamamoto
Vamos começar falando um pouco sobre este autor tão... singular.
Como a grande maioria de mangakás, as informações disponíveis na Internet sobre Hideo Yamamoto são extremamente escassas (eu penei um pouco pra sequer achar uma foto do cidadão :P). Nascido em 23 de Junho de 1968,  em Tokorozawa (uma cidade pertencente ao distrito de Saitama, que pode ser descrita como nos subúrbios de Tóquio), Hideo Yamamoto começou a receber destaque no mundo dos mangakás ao receber o "Prêmio Tetsuya Chiba" que é dado a promisores novos talentos, no ano de 1988. Após abandonar o posto de assistente de um popular autor de mangás seinen, chamado Kenshi Hirokane, Yamamoto fez sua estréia desenhando o mangá SHEEP (cuja história é de autoria de Masahiko Takasho), nas páginas da revista semanal Weekly Young Sunday em 1989.
Seus trabalhos mais notáveis são: SHEEP (1989), Okama Hakusho (Transvestite Report, 1989–1991), Nozokiya (Voyeur, 1992), 1 (Ichi) (1993), Enjou Kousai Bokumetsu Undou (Compensated Dating Eradication Movement, desenhado por Koshiba Tetsuya), Shin Nozokiya (Voyeur Inc., 1993–1997), Koroshiya Ichi (Ichi the Killer, 1998–2001) e Homunculus (2003-2011).
Temas recorrentes em seu trabalho são: crime, desvios sexuais e a mente humana.

FONTE: http://en.wikipedia.org/wiki/Hideo_Yamamoto

Agora minha opinião pessoal: pelos dois trabalhos que li deste autor (Homunculus e Ichi the Killer, nesta ordem) só posso dizer uma coisa: ele consegue alternar entre pura genialidade e aprofundamento psicológico, e a mais brutal violência gratuita e perversão presente na mente humana. Com certeza seus trabalhos não são recomendados para menores de 18 anos ou pessoas mais "sensíveis". O que não falta nestas duas obras são referências ao sexo e personagens mentalmente insalubres (eufemismo para gente com sérias perturbações mentais,rsrs). Como já disse anteriormente, li primeiro Homunculus, o qual entre os dois pode ser considerado o "mais leve" (ou menos pesado :P). Este por si só já é um tremendo soco no estômago em quem está acostumado com os personagens mentalmente equilibrados presentes na maioria dos mangás shonen. Quando passei para Ichi the Killer então... só posso dizer que é o mesmo que assistir o "Espetacular Homem-Aranha" e na sequência assistir "O Albergue "(tá, tô exagerando, Homunculus nem de perto é tão leve quanto um filme do Homem-Aranha :P).
Para o blog eu escolhi falar das duas obras na ordem cronológica (primeio Ichi the Killer e depois Homunculus), mas recomendo quem nunca tenha lido nada do autor (ou não tenha lido nada muito pesado em mangás) que inicie por Homunculus (que é mais "light") para depois, se sentir vontade, partir para Ichi the Killer. Bom, chega de papo, e vamos começar a falar sobre os Yakuzas pirados de Ichi the Killer!

- Koroshiya 1, aka Ichi the Killer (1998- 2001):  
FONTE: http://my.spill.com/profiles/blogs/ichi-the-killer-manga-review
Koroshiya 1, que pode ser traduzido como Assassino 1 (sendo que 1 em japonês se diz Ichi, daí o nome internacional: Ichi the Killer), começou a ser publicado na revista semanal seinen Weekly Young Sunday no ano de 1998, tendo sido finalizado três anos depois, em 2001. A série rendeu 10 volumes de tankobon e o sucesso fez com que ganhasse uma adaptação para o cinema pelas mãos do famoso diretor Takashi Miike (que é tão "pirado" quanto Hideo Yamamoto, pode crer :P) em 2001, além de um OVA entitulado Ichi the Killer Episode Zero (2002) que serve como um prequel ao filme (apesar de ser mais fiel ao mangá) e, em 2003, outro filme live-action chamado Ichi-1, que conta o passado do assassino.
A história de Ichi the Killer acontece predominantemente em Kabukicho, um "red-light district" (entenda por uma região que abriga casas de prostituição e outros negócios ilegais) em Shinjuku, um "bairro" de Tóquio. Esta região é considerada como um berço de Yakuzas (membros das famosas gangues japonesas), tanto que muitas obras sobre essas gangues ocorrem nesta localidade (quem jogou o game de PS2 Yakuza sabe do que estou falando). Aqui um senhor chamado Jijii planeja iniciar uma guerra entre os diferentes clãs Yakuza com o (aparente) objetivo de roubar o dinheiro deles. Para isso ele conta com o misterioso assassino chamado apenas de Ichi (1), além de mais 3 outros homens pertecentes a sua gangue, cuja única função é limpar a sujeira que Ichi faz cada vez que mata. Nenhum dos outros homens conhece pessoalmente Ichi e devido à violência com que ele executa seus alvos, imaginam que este seja um sujeito monstruoso e sangue frio. Porém, na realidade Ichi não passa de um jovem e perturbado rapaz chamado Shiroishi proviniente de uma cidade distante da capital, cujos traumas da época do colégio (ele era vítima de bullying) fizeram com que se tornasse um verdadeiro mestre em karatê e isso, aliado as manipulações mentais usadas por Jijii e à própria mente deturpada do rapaz, fazem com que ele se torne uma verdadeira máquina de matar.

Jijii-san encontra-se com Shiroishi (FONTE: http://www.citymanga.com/ichi_the_killer/chapter-3/14/).
A trama se inicia com Jijii e sua gangue (composta por Nobuo, Inoue e Ryuu) do lado de fora de um prédio da região de Shinjuku, ali é um reduto de Yakuzas de tal modo que o local ficou conhecido como "Mansão Yakuza". Neste local se encontra o clã Anjou, cujo líder (Anjou Yoshio) é o próximo alvo de Ichi. O plano de Jijii é assassinar Anjou e roubar o dinheiro que está no cofre do apartamento do chefão. Ichi então entra em ação e faz o que sabe: mata brutalmente Anjou e sua amante, deixando um rastro de sangue e corpos mutilados.

A morte de Anjou: acreditem isto é uma das cenas mais lights do mangá :P (FONTE: http://fiqueligado.com.br/artigos/index/artigo/341_Ichi-The-Killer---A-imaturidade-e-a-inconsequ%C3%AAncia-andam-juntas-e-catalisam-trag%C3%A9dias).
Jijii-san e sua gangue limpam a cena do crime e levam o dinheiro, dando a impressão que Anjou está desaparecido. Os homens do clã então ficam intrigados com o fato, em especial um deles: Kakihara. Maabou Kakihara é um masoquista tão "pirado" que é temido até mesmo entre os outros Yakuzas. Ele nutria um tipo de "paixão" por Anjou, já que este o torturava constantemente, e com o sumiço do chefe acaba ficando desesperado (já que não poderia mais ter as sessões sadomasoquistas com ele :P). Desesperado, ele resolve revirar Shinjuku e todo o mundo Yakuza de cabeça para baixo para encontrar seu líder. E é então que a trama começa...

Kakihara, o maso-Yakuza (FONTE: http://fiqueligado.com.br/artigos/index/artigo/341_Ichi-The-Killer---A-imaturidade-e-a-inconsequ%C3%AAncia-andam-juntas-e-catalisam-trag%C3%A9dias).
Com certeza o que leva a história adiante neste mangá são os personagens. E acreditem, um é mais louco que o outro! Começando por Shiroishi, ou o assassino Ichi: quando no colegial ele sofria bullying, sendo espacando e torturado por seus colegas, além de ter presenciado o estupro de uma menina que queria ajudá-lo. Cresceu então associando o sexo a violência ( toda vez que mata ele tem uma ereção, e ainda por cima, ejacula na cena do crime :P). Treinou karatê durante muito tempo, de modo que suas pernas são tão fortes que são capazes de partir uma mesa ao meio. Além disso, quando vai matar, calça botas especiais que possuem lâminas retráteis no calcanhar. Isso, aliado a força impressionante dos seus chutes, fazem com que o adversário vire literalmente picadinho.

Nosso "herói" picotando um sujeito (FONTE: http://www.citymanga.com/ichi_the_killer/chapter-30/16/).
Mas a personalidade de Ichi não se resume à isso, ele é muito mais complexo. Para se ter uma ideia, ele frenquenta um cabaré em sua cidade onde conhece uma moça chamada Sheila, que é toda deformada por apanhar muito de seu cafetão. E é exatamente por isso que Ichi gosta dela! Em dado momento da história, ele deseja matar o cafetão da moça apenas para bater nela em seu lugar o_O E o pior: ele acredita que é isso que a moça quer! Além disso, toda vez que mata, ele entra em uma crise de choro e se lembra dos colegas que o buliam na escola (não sabia que essa palavra existia? Bullying tem seu equivalente em português: o verbo bulir :D), associando seu alvo à seus colegas do passado (sendo que alguns nem sequer existiram, são apenas imaginação reforçada por Jijii-san).
Do outro lado temos Kakihara.Se Ichi é fascinado por violência e faz isso com os outros, Kakihara é o extremo oposto: apesar de torturar pessoas, seu grande prazer é sofrer torturas! Ele é o extremo masoquista, sendo que Ichi é o extremo sádico (isso até é citado no mangá). Com a morte de Anjou, Kakihara ouve falar de Ichi e testemunha os restos de seus assassinatos, o que faz com que ele fique completamente fascinado pela ideia de ser retalhado em pedaços pelo assassino o_O. Além de possuir piercings por todas as partes possíveis do corpo, Kakihara tem dois rasgos na boca que fazem com que ele possa abrí-la como uma cobra (estes normalmente são fechados com piercings). Isso sem contar o que ele fez com suas "partes íntimas" que, meus amigos, só vendo para crer...

Kakihara vai te deixar de boca aberta :P (FONTE: http://www.citymanga.com/ichi_the_killer/chapter-30/16/).
Existem ainda muito mais personagens bizarros nesta história, mas agora vou citar apenas mais dois: os gêmeos! Eles são colegas antigos de Kakihara e este os recruta para ajudar na busca por Ichi, quando todos de seu bando fogem. Sinceramente, depois que vi estes dois, não via a hora que Ichi chegasse logo e fizesse eles em picadinhos! Para você ter uma ideia da crueldade deles (cujo nome não me lembro agora :S), ambos se orgulham por terem estrupado mais de 300 mulheres! Além disso, eles possuem uma rivalidade monstruosa um com o outro (Kakihara conta que eles originalmente eram trigêmeos, mas devido à suas disputas, o outro foi morto pelos próprios irmãos o_O), sendo que em dado momento, quando perguntam para uma prostituta quem é melhor na cama (ela havia transado com os dois) e esta responde que é o mais velho, o mais novo simplesmente arranca completamente os cabelos dela, junto com parte do couro cabeludo (bleargh ><;). E quando a outra diz que o melhor é o mais novo, o mais velho corta fora os mamilos da moça o_O. É, eles são maus, tanto que frequentemente acabam matando as vítimas que torturam (para ódio de Kakihara ><;).

Os gêmeos: eles vão causar ódio em você ><; (FONTE:http://www.citymanga.com/ichi_the_killer/chapter-51/2/).
Ainda há muito à se falar sobre a história, mas não quero aqui contar todos os pormenores (mesmo por que isso teria muitos spoilers). Inicialmente o mangá é interessante por abordar o mundo dos Yakuzas, com suas regras e hierarquias, além de focar nas manipulações perpetradas por Jiji-san. Neste começo temos relativamente pouco sangue e a loucura até que está em um nível moderado :P Tudo muda, porém, quando por um acontecimento na história (que tem o dedo de Jijii-san) Kakihara acaba sendo expulso da "organização" dos clãs Yakuzas e resolve fundar seu próprio clã: o clã Kakihara (ou, em japonês, Kakiharagumi). A partir de então o mangá fica "bruto": Kakihara e cia saem trucidando os habitantes de Shinjuku e a violência predomina. Confesso que desta parte em diante não há muito o que se possa "aproveitar" do mangá: não há uma mensagem sendo passada pelo autor (como ocorre em Homunculus), ao menos não que eu possa ter notado,rs. Sinceramente, eu fiquei perplexo com isso: tudo o que ocorre é um desfile de personagens que glorificam a violência, completamente perturbados. Não que eu esteja dizendo que o mangá é vazio, só estou dizendo que não há como nós, pessoas "normais", traçarmos um paralelo com os personagens, de modo que não é possível estabelecer que tipo de mensagem (se é que há alguma) que o autor está tentando passar. Só resta observar, como Jijii-san faz, e ver o quão longe pode chegar a loucura da mente humana.
Falando sobre isso, acredito que o único personagem importante da história que tem um nível de normalidade e uma motivação que é compreensível para nós leitores é Kaneko. Ele é integrante da gangue de Kakihara, sendo o "hitman" (pelo que eu percebi ao ler o mangá, os Yakuzas não são muito afeitos ao porte de armas de fogo, de modo que um membro do grupo porta uma arma, sendo o atirador ou hitman). Ele é extremamente honrado e fiel ao clã, se recusando a fugir mesmo após presenciar o massacre que Ichi executa. Além disso, ele possui medo. Kaneko mora com seu filho no prédio dos Yakuzas, um garoto que acaba conhecendo Shiroishi e fazendo amizade com o rapaz. O filho de Kaneko (acho que ele chama Takashi) também é vítima de bullying e Ichi acaba ensinando o garoto alguns golpes que o ajudam a derrotar os valentões. O menino conta isso para o pai e Kaneko resolve enfrentar também seus medos, tomando como questão de honra matar o insano assassino que está ameaçando seu clã. Ele só não contava que a máquina de matar era o rapaz tímido e de sorriso bobo que ele conhecera por acaso, o jovem Shiroishi.

Kaneko conhece Shiroishi (FONTE:http://mangafox.me/manga/ichi_the_killer/v05/c047/1.html).
Como disse antes, Kaneko é o mais normal da história, de modo que é mais fácil de se identificar com ele.
Não entrei em mais detalhes aqui para não estragar a surpresa daqueles que irão ler o mangá, mas a história é mais complexas do que a contada nestas poucas linhas e existem muitos outros personagens bizarros. O autor também apresenta um certo humor negro, ao menos eu acho isso. Fora que em alguns pontos o mangá fica tão violento e exagerado, que a coisa acaba até ficando engraçada. Por exemplo temos um personagem cujo último pedido é ser estuprado depois de morto o_O Ou o momento em que um dos Yakuzas é executado com um tiro no ânus.
Bom, acho que vou parando por aqui. A dica é: se você deseja ler um mangá extremo e bizarro, Ichi the Killer é uma boa pedida.E se alguém ai conseguir encontrar a mensagem que o autor quis passar, me dá um toque, rsrsrs.
Falou pessoal e até a parte 2 que vai abordar Homunculus e vem em breve!

Encerrando com o sorriso bizarro de Ichi,rsrs (FONTE:http://obparasite.blogspot.com.br/2007/01/koroshiya-ichi-ichi-killer.html).
P.S.: Infelizmente (ou não? Rs) Ichi the Killer não foi lançado no Brasil, de modo que os interessados podem ler o mangá através de scanlators pela Internet (como eu fiz). Porém, o filme de Takashi Miike foi lançado aqui pela Europa Filmes, inclusive contando com uma edição dupla XD Ele é bem fiel ao espírito do mangá original e eu pretendo fazer um review dele aqui no blog. Para quem quiser conhecer a história, fica a dica ;)
P.S.2: As informações sobre o mangá foram retiradas da página em inglês da Wikipédia: http://en.wikipedia.org/wiki/Ichi_the_killer_%28manga%29

2 comentários:

  1. Obrigado por ter feito esse texto. Ainda não li o mangá, mas acabei de assistir ao filme do Takashi Miike, achei muito bom. Pelo que li aqui sobre o mangá, o longa não chega a ser tão profundo quanto o mesmo. O seu texto me ajudou a compreender situações que me passaram despercebidas. Quando puder, dê a sua opinião sobre o filme, principalmente no final, que achei um tanto bizarro e nonsense.

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